quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Apple, Samsung e Tesla Motors, e a Corrida para o Futuro dos Veículos Elétricos (VEs)


Já, no primeiro semestre de 2014, nós insistíamos em indagar: "O que há entre a Apple e a Tesla Motors?" e, por um bom tempo, esta se tornou a pergunta que não queria se calar, pois, havia fortes evidências de que algo potencialmente grande poderia estar acontecendo na relação entre estas duas notórias empresas norte americanas de alta tecnologia.

Tudo havia começado a partir de revelação do jornal San Francisco Chronicle, de que os executivos Adrian Perica, chefe de fusões e aquisições da Apple, e Elon Musk, o incansável CEO da Tesla Motors, teriam se reunido, visando negociações entre as duas companhias. Para completar, o fato de Tim Cook, o CEO da Apple, também ter estado presente na reunião entre Perica e Musk, somou como um forte indicativo de que as duas companhias poderiam estar, inclusive, em vias de se fundir.

Todavia, muito embora Tim Cook tenha conseguido chamar a atenção do mundo todo ao revelar que tem orgulho de ser gay, sobre a relação entre a Apple e a Tesla Motors, mesmo, nem ele, nem ninguém das duas empresas, nunca revelou nada sobre aquela reunião, que viesse a ser algo contundente, ou mesmo surpreendente. Na verdade, nada sob nada foi revelado!

O tempo passou e a Tesla, por seu lado, no início de Setembro de 2014, anuncia oficialmente algo que se torna muito importante para o mundo dos VEs:

Em uma conferência de imprensa na cidade de Carson, estado de Nevada, EUA: a empresa Tesla Motors decidiu construir naquele estado americano, o seu mais novo empreendimento: a Tesla Gigafactory de baterias, expressando a ideia confiante de que esta Gigafactory venha a entrar em operação até o ano de 2020, produzindo 50 GW.h de baterias por ano, ou seja, baterias suficiente para que se possa produzir mais de 500.000 VEs (da Tesla ou de terceiros) anualmente.

Visão Aérea de Parte das Obras da Giga-Fábrica e Baterias da  Tesla Motors em Nevada - EUA - início de Jan./2015

Cronograma Geral das Obras da Giga-Fábrica e Baterias da  Tesla Motors em Nevada - EUA
Mas para este empreendimento mega-gigante, a ousada empresa automobilística Tesla anunciou ter feito parceria com a Panasonic, além de outros parceiros menores, mas nada constava de alguma participação da gigante da computação Apple neste negócio, mesmo que ele pareça grande e arrojado o bastante para bem acomodar uma parceria com ela.

O tempo continua seu curso e, entrando em 2015, começa a surgir especulações, que vão se tornando cada vez mais fortes, de que a Apple está para começar a construir carros e, esta noticia tem sido uma das mais comentadas no mundo da indústria de alta tecnologia nas últimas semana. Mas como isso pode se tornar, de fato, provável - e quais os desafios que a Apple terá que encarar para se tornar um fabricante de automóveis?

De longa data, um bom indício de que a Apple queria, de alguma maneira, ingressar no setor automobilístico tinha sido a contratação de Tomlinson Holman, o engenheiro que foi responsável pela criação dos sistemas de som THX e Surround Sound 10.2, e que trabalha na empresa de Cupertino desde 2011.

Especulou-se se aquilo não seria para poder produzir sistemas de som automotivo de alta performance, especialmente para os VEs, como os usados nos veículos da marca Lincoln desde 2011. Especulou-se, também, que a Apple poderia assumir o sistema de informação com tela de 17 polegadas sensível ao toque do Tesla Modelo S, que atualmente funciona com um sistema operacional proprietário.

Especulou-se, ainda, que a Apple poderia entrar na briga por assumir o desenvolvimento do software bateria que gerencia a carga / autonomia (medindo o Estado de Carga (SoC)) da bateria dos VEs da Tesla, que é um item que ficou sob fogo de suspeição, depois que uma polêmica reportagem sobre o VE Tesla Modelo-S que saiu no New York Times, lá nos idos de 2012.

Só não especulou-se que a Apple quisesse comprar a Tesla (e ela poderia pretender isso), pois, Elon Musk foi rápido e categórico ao dizer á Bloomberg, que uma aquisição da Tesla pela Apple era praticamente improvável: "Acho muito difícil (vender a Tesla), porque estamos super focados na criação de carros elétricos para as massas, e eu ficaria muito preocupado com qualquer possibilidade de aquisição, porque isso nos afastaria de nossas funções e objetivos", comentou.

Agora (24/02/2005), segundo o site da BBC News, em postagem titulada "Could Apple really be about to make cars?" (que questiona, justamente, sobre se a Apple poderia realmente estar prestes a fazer carros?), o redator especulou que a Apple podia já estar trabalhando em um projeto de Veículo Elétrico próprio ultra-secreto por anos, revelando sobre a misteriosa aparição de alguma Vans, pelo menos uma delas garantidamente registrada em nome da Apple, circulando recentemente por São Francisco.

As Misteriosas Vans da Apple que Rodaram em São Francisco Portando Câmeras e Sensores para Serviço de Mapas e de Coleta de Dados ao Nível de Visão da Rua (serviço semelhante ao que o Google já vem fazendo)
Entretanto essas Van sequer são VEs mas, sim, Dodge Caravans, com um equipamento especial montado no teto, o que reduziu a especulação para a Apple esteja desenvolvendo o seu ambicioso plano para seu serviço de mapas e coleta de dados ao nível de rua, com esse equipamento semelhante à tecnologia montados em um carro Google Street View (com 4 câmeras, uma em cada canto, e 2 sensores LiDAR (a base de laser usados para fazer mapas de alta resolução), um traseiro e outro dianteiro).

Contudo, segundo a mesma postagem da BBC, a Bloomberg afirmou que a gigante da informática quer mesmo ter um carro em produção até 2020. Para respaldar isso é citado recentes contratações da Apple, incluindo um recrutador sênior de Tesla. "Eu fui muito cético sobre esse rumor sobre o carro da Apple", disse o blogueiro Gruber, "mas onde há fumaça, há fogo. E, de repente, há uma grande quantidade de fumaça no ar neste momento."

De fato, alguns analistas acreditam que os carros são os novos "Smartphones sobre rodas", ou seja, a forma como os carros são feitos, comprados e conduzido está mudando em função das comunicações móveis, e isso abre, inclusive, o caminho para um futuro "carro sem motorista". Este ano, a Consumer Electronics Show, em Las Vegas tornou-se uma vitrine para as principais montadoras, em alguns aspectos, eclipsando com o Detroit Auto Show, que aconteceu apenas alguns dias depois. Em exposição estavam as tecnologia "In-Car" de amanhã, bem como a tecnologia de Condução Autônoma, que parece ser, de fato, o maior interesse da Apple..

Na Consumer Electronics Show (CES - 2015), em Las Vegas, os Carros Conectados Roubaram a Cena como Gadgets
Jeffrey Miller, membro do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) e professor de prática de engenharia na Universidade do Sul da Califórnia, é ainda mais definitivo: "Eu não acho que a Apple está interessada em entrar no mercado de veículos ", diz ele. Ele acredita que a empresa está muito interessada em seus produtos, tornando-o adequados para associação casada com os veículos, mas veículos que ela mesma não precise fabrica.

"Assim como o Google está fazendo parceria com os fabricantes de automóveis, para incluir nos carros deles a sua solução de auto-condução, a Apple vai fazer o mesmo, e fornecer competição com  características potencialmente diferentes", diz ele. "Google e Apple já estão competindo em telas mostradoras, com Android ou iOS, que estão sendo colocados em diferentes veículos. Estas são duas empresas de software por excelência, com engenheiros inteligentes que irão adicionar ao mercado de veículos, a característica de carro sem-condutor."

O Conceito de Veículo Auto-Pilotado da Google
Além do mais, muitos outros desafios técnicos permanecem, diz Miller, que já esteve envolvido com comunicação veículo-a-veículo (V2V) e comunicação veículo-a-infra-estrutura, (V2I),  bem como a construção e compreensão de algoritmos para autômatos, por mais de uma década.

"A visão computacional ainda precisa ser melhorado para identificar obstáculos móveis e estacionários na pista e em torno da estrada", diz ele. "As decisões precisam ser tomadas com base nas informações fornecidas, e as normas legais precisam ser postas em prática. O apoio de uma grande empresa provavelmente irá fazer a integração entre fabricantes um pouco mais fácil do que a que organizações menores poderiam fornecer ...".

Só que os desafios para a Apple não devem parar por aí. "A parte mais difícil para a Apple entrar neste espaço é que eles nunca trabalharam, realmente, em um ambiente que é altamente regulado", diz Reimer. Ele acredita que a indústria de eletrônicos de consumo é muito diferente do setor automotivo, que é extrema e rigidamente controlado por legislação que, muitas vezes, varia de país para país.

"Há um potencial", diz ele, "mas a questão é realmente como eles vão reagir ao que é um espaço de manobra muito confinado?"

A Apple também é conhecida por esperar lançar um produto "perfeito", em vez de correr para o mercado com um compromisso. Como empresa ela parece estar feliz em não liderar, mas espera lançar produtos bem desenhados, que sejam vendidos como "premium".

Se ela se aplicar aos carros com esta mesma abordagem, a Apple irá descobrir que ela está entrando em um espaço que já é muito competitivo. No entanto, a empresa tem enormes reservas de dinheiro, e poderia dar-se ao luxo de simplesmente comprar e engolir uma das montadoras tradicionais. Nada é impossível.

De qualquer maneira, o dia em que as pessoas acampem do lado de fora de uma concessionária de carros para um poder ter um iCar - como se tem feito, recentemente,  para o iPhone - pode estar ainda um pouco distante.

Bem, uma vez aprendido isso tudo, parece que tudo se explica, e se acalma. Porém, a novidade mais recente (24/02/2015), e surpreendente, foi o comunicado veiculado pelo site Business Insider Inc. de uma reação da também gigante Samsung, principal concorrente da Apple nos smartphones, ao compra parte de uma empresa européia para atrapalhar negocio do desenvolvimento do carro elétrico da Apple.

O comunicado da conta de que a divisão de baterias da empresa austríaca Magna Steyr foi arrematada pela Samsung poucos dias depois de surgirem relatos de que a Apple estava em negociações com a Magna Steyr, em relação à produção de um carro elétrico.

Além do negócio das baterias, a Magna Steyr  também monta carros para empresas como a Audi, a Fiat, a GM e a Volkswagen, tendo, ainda outras empresas que projetam e constroem autopeças, o que inclui os sistemas completos de baterias para veículos elétricos e híbridos.

B:LiON - Pacote de Bateria de Tração da Magna Steyr  (p/ VEs a bateria, puramente elétricos). Potência: 40 ~200 kW; Tensão Nominal: 350 V; Capacidade de Energia: até 36 kW.h; Peso / Energia: < 10 kg / kW.h; Arrefecimento: ar ou líquido
O negócio Samsung inclui, apenas, o segmento de baterias da Magna Steyr, mas não a sua empresa de manufactura. Assim, a Apple poderia ainda trabalhar com a Magna Steyr para construir os seus carros a partir de desenhos de projetos da Apple. O mais interessante ainda, é que, alegadamente, a aquisição vem como resposta pela Apple estar tentado contratar engenheiros especialistas em bateria da Samsung.

Samsung não disse quanto pagou para os negócios da bateria da Magna. A Samsung SDI  já vinha fabricando, de antemão, baterias para carros elétricos da BMW.

Enfim, parece que a chapa está esquentando bem, no mundo dos VEs, neste início de 2015, e que ninguém sabe, exatamente, aonde a Apple quer chegar e se encaixar. Até mais, fui!

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Este trabalho de André Luis Lenz, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada.